12 janeiro 2006

A lei do filho único

Li hoje no Publico.pt, que a China irá manter a política de apenas um filho por casal nos próximos 5 anos.

Inicialmente, estranhei esta notícia não apenas por considerar insólita mas pela política de natalidade chinesa parecer desumana mesmo numa sociedade não democrática. Contudo, pensado melhor e mais friamente, o governo chinês está a tirar um grande fardo a toda a humanidade e ao estilo de vida ocidental, em particular.

Ao que parece, esta política do filho único vigora desde o início década de 70, ou seja, há mais de 30 anos que há menos chineses do que era suposto existirem naturalmente. Mesmo assim, o fluxo migratório massivo é bem visível; basta ver o boom de lojas e restaurantes chineses por esse país fora. Mas esta é a ponta do iceberg.

A China tem sustentado o estilo de vida ocidental, ao produzir quase todo o que consumimos a um preço inferior àquele que conseguiríamos produzir, dando-nos hipótese de adquirirmos esses produtos que doutra forma não conseguiríamos comprar (basta verem onde foram feitos a maioria dos componentes do computador onde estão a ler este texto).

Nós ocidentais, só começámos a dar importância ao potencial económico, político, estratégico e por aí fora, da China quando esta aderiu à Organização Mundial do Comércio. Nessa altura, os nossos empresários começaram a queixar-se de concorrência ilegal porque os chineses não têm os encargos laborais que os ocidentais têm. Até lá, estavam todos nas tintas para o facto de os chineses trabalharem 12 a 16 horas por dia, não terem mais de uma semana de férias nem os subsídios que os nossos trabalhadores têm.

Assim, para além de agradecer aos chineses por terem feito por baixo preço boa parte daquilo que uso, agradeço por serem eles a tomarem a iniciativa de se auto-limitarem demograficamente. Se a China já tem 1300 milhões de habitantes, uma economia pujante assente numa indústria tecnologicamente desactualizada, que consome um colosso de recursos naturais e energéticos, imaginem o consumo se eles fossem 2000 milhões e se fossem tão auto-mobilizados como nós somos, por exemplo.

É uma visão hipócrita e egoísta mas ainda bem que eles controlam a natalidade desta forma que nós consideramos de desumana.

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